Blogue da Biblioteca Escolar da Escola Básica Ferreira de Castro - Sintra

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20 abril, 2022

Mais cravos que ditadura - A MULHER NO ESTADO NOVO




Estamos em abril, mês em que Portugal celebra a sua revolução dos cravos, ocorrida em 1974, a Revolução do 25 de Abril.
Para podermos continuar a lembrar esta data e perceber o seu contributo para a vida em democracia, é bom recordarmos como era Portugal antes de 1974.

Estamos aqui no blogue da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro, a revelar algumas realidades com sugestão de leituras e o contributo da RTP Ensina.

Comecemos hoje  pelo Retrato da mulher no Estado Novo feito pela historiadora Irene Pimentel.


Mãe, esposa e dona-de-casa. Papéis femininos valorizados e incentivados no Estado Novo. O regime fabricou a mulher ideal, afastada do espaço público, sem acesso a certas profissões e com direitos muito limitados. Os homens mandavam, as mulheres obedeciam. 

Apesar de a Constituição de 1933 estabelecer o princípio da igualdade, na prática a lei não era a mesma para homens e mulheres. Sobretudo as casadas, que não podiam trabalhar nem ir para o estrangeiro sem autorização do chefe de família. A mulher perfeita era a que ficava em casa, a manter a ordem e o asseio do lar, a cuidar da educação dos filhos, numa doce submissão ao marido. As escolas seguiam estes valores, as meninas eram educadas para as alegrias do casamento e desincentivadas de seguir o ensino secundário. O regime salazarista providenciava cursos para formar o seu ideal feminino. 

A historiadora Irene Flunser Pimentel é testemunha deste tempo que transformou em objeto de estudo. Revoltada contra a função secundária que lhe queriam atribuir, tornou-se feminista e, mais tarde, investigadora. No livro “A cada um seu lugar – a política feminina na ditadura de Salazar” analisa este período da história portuguesa. Diz-nos a autora que a discriminação e inferiorização das mulheres, foi também possível porque existia uma grande passividade da população que não lutava contra as regras instituídas. Mas nos anos 60, as raparigas começaram a invadir os liceus e nada voltou a ser como até então. 

Este texto e um pequeno filme podem ser visionados em 


Entretanto aconselhamos a leitura do livro A cada um o seu lugar, de Irene Pimentel



Boas leituras!

Podemos ver também na RTP Ensina o tema O ideal feminino do Estado Novo em 


onde também podemos ler:

Na ideologia vigente, os direitos da mulher eram quase nenhuns. Não podia votar. Não podia ser juíza, diplomata, militar ou polícia. Para trabalhar no comércio, sair do país, abrir conta bancária ou tomar contraceptivos, a mulher era obrigada a pedir autorização ao marido. E ganhava quase metade do salário pago aos homens. Estas e outras leis foram rasgadas no 25 de Abril, quando, um ano depois da revolução, os direitos das mulheres ficaram consagrados na Constituição da República.

18 abril, 2022

Mais cravos que ditadura – HISTÓRIA DA PIDE/DGS


Mais uma página a caminho de 25 de abril, data em que celebraremos, a Revolução dos Cravos. Para melhor valorizarmos a revolução convém continuarmos a conhecer algumas realidades de Portugal, anteriores a 1974, através mais uma vez da RTP Ensina e de sugestão de leituras.

Hoje abordaremos a História da PIDE/DGS

Durante quase 30 anos a polícia política encarregou-se de assegurar os valores do estado novo, mesmo que isso implicasse matar, torturar ou censurar.

A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) foi criada a 22 de outubro de 1945, no auge do Estado Novo. A função desta polícia era perseguir, prender e interrogar qualquer individuo que fosse visto como inimigo à ditadura salazarista. Estes opositores ao regime eram levados para prisões em Portugal como as dos Fortes de Caxias e de Peniche, ou a do Tarrafal, na ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde. Nestes locais eram muitas vezes vítimas de tortura, privação de sono, isolamento, más condições alimentares, higiénicas e de saúde, o que levava muitas vezes à sua morte.
A PIDE também dirigia a censura. Um dos seus mais famosos processos ficou conhecido como o “lápis azul”, uma vez que todos os artigos de imprensa e obras de arte – literatura, teatro, cinema, artes plásticas -, eram cortados, editados ou proibidos com um lápis azul antes de serem publicados.
Com a subida ao poder de Marcelo Caetano, em 1968, a imagem deste organismo policial tinha uma reputação amarga perante o povo português, levando o recente ditador a dissolver a PIDE. Mais tarde, a 24 de Novembro de 1969, foi oficialmente criada a DGS (Direção-Geral de Segurança) que manteve as mesmas funções da antiga PIDE.
Este sistema autoritário só chegou realmente ao fim com a chegada do 25 de Abril de 1974

Este texto e um pequeno filme podem ser visionados em:


Entretanto sobre este tema propomos a leitura da obra da historiadora Irene Pimentel 
A história da PIDE.



Propomos mais um livro sobre a PIDE e seus informadores, que como nos diz a apresentação do Museu Nacional Resistência e liberdade, é uma importante narrativa histórica sobre a PIDE e os seus informadores, através do caso paradigmático de Inácio […] objectiva e rigorosa, feita com base nos processos da polícia política existentes na Torre do Tombo, se poderá […] conhecer a face mais negra do Estado Novo, como Estado autoritário ou totalitário, questionando a ideia de que se tratava – como às vezes por aí se diz – de uma simples “ditadura à portuguesa”, tradicionalista e conservadora, e de “brandos costumes”.


07 fevereiro, 2021

Curiosidades sobre a História da Leitura

"Irmãs a ler um livro" (1826), de Armin Carl Hansen


O primeiro livrólico e outras curiosidades 
sobre a História da Leitura

Por: Beatriz Sertório a 2021-01-12 // Coordenação Editorial: Marisa Sousa

Se para alguns o ato da leitura não é mais do que uma forma de distração e de passar o tempo, um verdadeiro livrólico sabe este que pode ser muito mais do que isso. Fonte de conhecimento, de prazer, de consolo ou até objeto de subversão, o livro tem sido um dos meios mais valiosos para compreender a civilização e o mundo ao longo dos tempos. Alberto Manguel, autor, editor, tradutor e, em tempos, leitor pessoal de Jorge Luis Borges - quando a visão do autor argentino deixou de lhe permitir dedicar-se à atividade que mais prazer lhe dava -, tem dedicado a sua vida aos livros: a lê-los, a escrevê-los e a escrever sobre eles - recorde-se que, em setembro de 2020, Manguel anunciou a doação da sua magnânima biblioteca (composta por cerca de 40 mil volumes) à cidade de Lisboa. 

Em Curiosidades sobre a História da Leitura livro originalmente publicado em 1996, que foi recentemente editado pela Tinta da China, traça a História da leitura, do livro e dos leitores, num relato apaixonado de alguém que, tendo devotado o seu amor aos livros, sabe que “não se lê apenas Crime e Castigo ou A Tree Grows in Brooklyn. Lê-se uma certa edição, um exemplar específico, reconhecível pelo grão do papel, rugoso ou suave, pelo seu odor, por um pedacinho rasgado na página 72 e uma mancha de café no canto direito da contracapa.”
 

"A morte de Sócrates" (1787), de Jacques-Louis David.

 
2. Aristóteles foi um dos primeiros livrólicos de que se tem conhecimento

Segundo Alberto Manguel, o filósofo grego aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, foi um dos primeiros leitores a reunir uma importante coleção de manuscritos para seu uso pessoal. Sendo mencionada no livro Geografia de Estrabão, um tratado de 17 livros que descreve povos e locais de todo o mundo, a biblioteca pessoal de Aristóteles é a primeira biblioteca privada da História da qual existe registo escrito. Sobre este, escreve o historiador e geógrafo grego que "foi o primeiro homem, de que há conhecimento, a colecionar livros e a ensinar os reis do Egito a organizar uma biblioteca." Depois da sua morte, Artistóteles deixou a sua biblioteca ao cuidado do seu sucessor, Teosfrato.
 
 

Busto de Aristóteles na biblioteca da Trinity College, em Dublin (Irlanda).


3. Ler em silêncio era considerado uma heresia

Uma vez que a literacia foi um privilégio reservado a uma elite durante milhares de anos, a leitura começou por ser uma atividade oral e coletiva. Desde a Roma Antiga até ao século XIX, as sessões de leituras públicas eram uma forma de entretenimento tão popular como os malabaristas ou os bobos na corte. Para além disso, esta era uma forma de continuar a preservar a transmissão de obras banidas pelas autoridades, das quais foram exemplo as obras de Jean-Jacques Rousseau.

Até a leitura em silêncio se tornar norma no mundo cristão, alguns dogmáticos suspeitavam desta nova tendência, considerando que um livro que pode ser lido em privado, “não é susceptível de clarificação imediata ou de leitura guiada, condenação ou censura por um ouvinte". Desde sempre, os leitores foram temidos pois, como acredita veemente Alberto Manguel, "ler é um ato de poder." 


Uma multidão compra bilhetes para uma sessão de leitura pública 
de Charles Dickens em Nova Iorque, em 1867.

Escreve Alberto Manguel que "na iconografia cristã, o livro ou o rolo de pergaminho pertenciam por tradição à divindade masculina, a Deus Pai ou ao Cristo Triunfante, o novo Adão, no qual a palavra de Deus encarnara". Por sua vez, "à mulher pertencia a Criança, afirmando assim o seu papel de mãe." Foi esta a mentalidade que reinou durante a maior parte da Idade Média, período durante o qual as mulheres recebiam apenas a educação julgada útil para o governo do lar, e que adquiriu diferentes ramificações ao longo dos tempos até, por fim, se tornar uma prática aceitável pela sociedade.

Tal como aconteceu com a maior parte dos grupos de leitores que foram marginalizados, a partir do momento em tiverem permissão para aprender a ler, as mulheres começaram a criar deliberadamente o seu próprio material de leitura. Foi, aliás, a partir de um fenómeno deste tipo, criado pelas mulheres da Corte japonesa, durante o século XI, que nasceu aquele que é considerado o primeiro romance do Mundo - A História de Genji -, cuja autoria é atribuída à fidalga Murasaki Shikibu.
 

"Fruto proibido" (1865), de Auguste Toulmouche.

5. Diderot foi um dos primeiros biblioterapeutas

Se acompanha as nossas bulas literárias, integradas na categoria Farmácia Literária deste blogue, sabe que existem diversos estudos científicos que demonstram que ler melhora a nossa saúde. Foi a partir dessa ideia que nasceu a biblioterapia, um tipo de terapia que defende que a cura passa pela leitura de livros. Embora o filósofo francês Denis Diderot, nascido em 1713, ainda não conhecesse este conceito, acreditava no poder terapêutico da leitura em voz alta. Conta Alberto Manguel que "em 1781, Diderot escreveu sobre a «cura» de sua mulher, Nanette, que dizia que nunca tocaria num livro a não ser que o seu conteúdo fosse espiritualmente edificante, submetendo-a ao longo de várias semanas a uma dieta de literatura ousada".

Relata Diderot: "Tornei-me o seu leitor. Administro-lhe três pitadas de Gil Blas todos os dias; uma de manhã, uma após o almoço e a outra ao serão. Quando acabarmos, avançaremos para O Diabo em Duas Varas, O Bacharel de Salamanca e outras obras animadoras da mesma natureza. Alguns anos e umas centenas destas leituras completarão a cura. Se eu tivesse a certeza de ser bem-sucedido, não me queixaria do trabalho. O que me diverte é que ela repete a quem nos visita o que acabei de lhe ler, de forma que a conversa duplica o efeito do remédio. Sempre considerei os romances como produtos frívolos, mas descobri finalmente que são bons para a hipocondria. Darei a fórmula ao Dr. Tronchin da próxima vez que o vir. Receita: oito a dez páginas do Roman comique, de Scarro; quatro capítulos de Dom Quixote; um parágrafo bem escolhido de Rabelais; deixar de infusão numa quantidade razoável de Jacques, o Fatalista ou de Manon Lescaut e variar estes fármacos como se variam as plantas medicinais, substituindo-os por outros com as mesmas propriedades, se necessário."


Pintura de Denis Diderot.

6. A utilização de estantes de livros (mesmo que falsas) como símbolo de estatuto já é uma tradição antiga

Não foi só a crescente realização de videochamadas que tornou popular a ideia de ter como cenário uma estante bem apetrechada de livros. Na Rússia do século XVIII, durante o reinado de Catarina, a Grande, um tal Sr. Klosterman fez fortuna com a venda de encadernações recheadas de papel velho, que permitiam aos cortesãos criar a ilusão de uma biblioteca e assim cair nas boas graças da sua imperatriz bibliófila. Ainda assim, partilhamos a convicção de Alberto Manguel de que nada substitui uma verdadeira biblioteca - esse espaço que era para o seu velho amigo, Borges, uma espécie de paraíso.

 
Cenário ilustrado com uma prateleira de livros, à venda na Amazon.
 
https://www.bertrand.pt/blogue-somos-livros/livrolicos/artigo/o-primeiro-livrolico-e-outras-curiosidades-sobre-a-historia-da-leitura/180605