Blogue da Biblioteca Escolar da Escola Básica Ferreira de Castro - Sintra

Aqui partilhamos tudo o que acontece na nossa Biblioteca.

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24 maio, 2021

Ferreira de Castro - um homem de causas


Dia 24 de maio comemorando-se o aniversário do nascimento de Ferreira de Castro e por isso também  o Dia do Agrupamento de Escolas Ferreira de Castro, a Biblioteca Escolar Ferreira de Castro quis trazer aqui um olhar sobre o escritor como um homem de causas. Com 75 anos, Ferreira de Castro revelou-nos a sua atualidade na defesa de uma sociedade justa, sem discriminações, sem desigualdades sociais e mais humana.

as palavras de Ferreira de Castro numa entrevista feita em 1973 
onde nos revela a mensagem que gostaria de deixar 
à humanidade presente e futura.

Ferreira de Castro (1898-1974) nasceu em Oliveira de Azeméis mas foi para o Brasil aos 12 anos. É lá que escreve os seus primeiros contos. "A Selva", um dos seus livros mais conhecidos, é baseado nas experiências que teve nos seringais da Amazónia.

A pouca formação escolar não o impediu de começar a escrever, ainda no Brasil, pequenas histórias que depois publicava nos jornais locais. Assinava também notícias e crónicas.

É como jornalista que regressa a Portugal. Para além de continuar a assinar textos noticiosos, publica também contos em diversos periódicos nacionais.

Foi presidente do Sindicato dos Profissionais de Imprensa de Lisboa e da Sociedade Portuguesa de Escritores.

Crítico do Estado Novo, viveria para ver a revolução do 25 de Abril.

https://ensina.rtp.pt/artigo/ferreira-de-castro-a-selva-como-escola/

23 maio, 2021

Ferreira de Castro - a sua história no museu de Sintra


Comemora - se o aniversário do nascimento de Ferreira de Castro no dia 24 de maio , sendo assim o Dia do Agrupamento de Escolas Ferreira de Castro.
Apresentamos aqui um apontamento da biografia do escritor, através de uma reportagem que nos revela um pouco do que é o  Museu Ferreira de Castro em Sintra.



Na pequena vila de Sintra escreveu Ferreira de Castro muitas das suas obras. Foram quase trinta anos de um amor assumido "pela imensa poesia da natureza sintrense". Por isso, o autor de "A Selva" lhe doou o espólio e quis ser sepultado no cimo da serra.

Chegava a Sintra, instalava-se no Hotel Neto e escrevia. Como tantos outros artistas, Ferreira de Castro rendeu-se aos encantos da vila, onde encontrava paz e inspiração para a sua prosa.

Nascido em Oliveira de Azeméis, em 1898, mudou-se para o Brasil depois de concluir os estudos primários na escola de Ossela. Tinha apenas onze anos anos quando embarcou nesta viagem que iria marcar toda a sua vida, embrião do seu mais emblemático romance.

A dura experiência que teve no coração da Amazónia, onde trabalhou num seringal, “a masmorra verde”, como lhe chamou, levou-o a escrever “A Selva” para contar a história dos trabalhadores escravizados, que passavam fome e viviam em condições sub-humanas. Através de Alberto, o protagonista, resgata memórias e infortúnios da sua adolescência. Publicado em 1930, o romance é um sucesso e Ferreira de Castro um autor reconhecido e consagrado.

Esse seria o caminho que iria percorrer de forma consistente depois de regressado a Portugal, com 21 anos. Escrever era uma certeza. Ferreira de Castro começa por ser jornalista mas é na ficção que se afirma. Considerado um dos pioneiros do realismo social, o seu nome foi proposto por Jorge Amado para o Nobel.

Muitos dos seus livros foram escritos a contemplar o verde de Sintra e, em 1973, um ano antes de morrer, decidiu doar-lhe o seu espólio. “Amo profundamente aquela vila, pela imensa poesia da natureza sintrense, onde tanto meditei e sonhei, pelo seu povo tão meu amigo, fi-lo porque foi em Sintra que escrevi, durante cerca de trinta anos, a maior parte da obra que realizei nesse longo período, o mais fecundo da minha vida”, explicou. Entre os muitos manuscritos, edições raras e objetos pessoais, encontra-se uma misteriosa caixa que, por vontade do escritor, só será aberta em 2050, como conta aqui Ricardo Alves, diretor desta casa-museu.

                                                                                                                   https://ensina.rtp.pt/artigo/ferreira-de-castro-tem-uma-casa-museu-em-sintra/

22 maio, 2021

Ferreira de Castro - a casa de Ossela

Com o propósito de contribuir para a divulgação e preservação da memória do vasto património literário e cultural presente na região Norte, a Direção Regional de Cultura do Norte concebeu e coordenou o projeto Escritores a Norte.

A Biblioteca Escolar Ferreira de Castro, 
para a comemoração, a 24 de maio, do dia do patrono 
do seu Agrupamento de Escolas Ferreira de Castro ,
 possibilita o visionamento 
do programa que foi realizado sobre Ferreira de Castro, sob titulo 
ESCRITORES A NORTE - VIDAS COM OBRA EM CASAS D' ESCRITAS.



A origem humilde deste escritor (1898 - 1974), que passou para o papel não só o drama dos emigrantes, como também o exotismo da selva amazónica, está bem patente nesta casa, onde nasceu. Os sapatos e a mala que o acompanharam na volta ao mundo recordam o périplo de quase dois anos, no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Na biblioteca, junto à Casa-Museu, apresenta-se parte do espólio do romancista, várias traduções dos seus livros, a biblioteca pessoal e o manuscrito de “As Maravilhas Artísticas do Mundo”. Nas paredes estão alguns quadros de autores consagrados e que foram oferecidos ao escritor. Em complemento à visita poderá também percorrer o Roteiro Literário “Caminhos de Ferreira de Castro”. Foi criado pelo Centro de Estudos Ferreira de Castro e relembra os caminhos a que o escritor faz referência nas suas obras e por onde andava na sua infância. Escritores a Norte, vidas com obra em casas d' escritas, surge como um projeto que pretende promover uma aproximação dos públicos aos escritores do Norte, partindo da sugestão de visitas, físicas ou virtuais, às suas casas, espaços de memória detentores dos seus espólios. 

https://www.youtube.com/watch?v=K2OqCVCCXlg

21 maio, 2021

Ferreira de Castro - alguns dados biográficos

Retrato de Ferreira de Castro, da autoria da sua esposa, Elena Muriel, 1937

Dia 24 de maio comemora - se o aniversário do nascimento de Ferreira de Castro, patrono do Agrupamento de Escolas Ferreira de Castro  e dia do nosso Agrupamento. A Biblioteca Escolar Ferreira de Castro partilha aqui alguns dados biográficos de Ferreira de Castro, recorrendo a informação da Casa Museu Ferreira de Castro, em Sintra.


José Maria Ferreira de Castro nasceu a 24 de Maio de 1898 na aldeia dos Salgueiros, freguesia de Ossela, concelho de Oliveira de Azeméis, filho mais velho de José Eustáquio Ferreira de Castro e de Maria Rosa Soares de Castro.

Órfão de pai aos 8 anos, a sua infância seria igual à de tantas outras crianças camponesas: intensa comunhão com a natureza, escola primária (com o professor Portela), catequese (dada pelo padre Carmo). Normalidade abruptamente alterada por uma decisão inusitada: numa região de tradicional fluxo migratório para o Brasil, o pequeno Zeca decidiu-se a partir. Apaixonara-se por Margarida, que, nos seus 18 anos, pouca atenção dava àquela criança com pouco mais de 10. Um ato temerário agigantá-lo-ia, decerto, aos olhos da rapariga.

A 7 de Janeiro de 1911, Ferreira de Castro embarcou em Leixões a bordo do vapor "Jerôme", navio "negro e sujo" com destino a Belém do Pará. Nesse dia, contudo, Margarida não estava lá. "Tinha eu, então, 12 anos, 7 meses e 14 dias…", recordará mais tarde, num texto memorialístico.
Em Belém, grassava a crise da borracha. Castro passou pouco tempo em casa de um conterrâneo a quem havia sido recomendado, que – num episódio dickensiano – procurou livrar-se daquele encargo, arranjando-lhe trabalho num seringal inóspito. Viveu assim, entre 1911 e 1914 no seringal ironicamente chamado 'Paraíso', nas margens do rio Madeira, braço do Amazonas.

Embora trabalhasse como caixeiro num armazém, pois era alfabetizado, marcá-lo-ia fortemente a convivência com os seringueiros paraenses e cearenses, vítimas da adversidade do meio e da exploração dos coronéis proprietários das plantações. A par de pequenos textos destinados a jornais, ali redigiu o seu primeiro romance, Criminoso por Ambição, obra juvenil publicada a expensas próprias, já em Belém.

Deixou o seringal em 28 de Outubro de 1914 e, na capital do Pará, passou por enormes dificuldades, colando cartazes, trabalhando como embarcadiço num navio de cabotagem que fazia a carreira do rio Oiapoque, entre Belém e Caena, aproveitando todos os tempos livres para se autoeducar na Biblioteca Pública de Belém, onde tomou contacto com as obras clássicas da literatura universal. Ainda em 1916, publicou a peça Alma Lusitana, iniciando-se então um período mais estável, mercê da colaboração periodística, em especial quando fundou, com outro emigrante, o semanário Portugal (1917), que granjeou um acolhimento favorável entre a colónia lusa da cidade. Aí publicou parte do romance Rugas Sociais, nunca editado em livro. Em 1919, resolveu regressar, confiando nas suas capacidades para encetar um novo percurso jornalístico e, principalmente, literário deste lado do Atlântico.
Chegou a Lisboa em Setembro, a bordo do 'Desna', com 400 escudos no bolso e o propósito de trabalhar nas gazetas, sem qualquer recomendação ou conhecimento no meio. Os primeiros anos na capital foram muito difíceis. Trabalhou em vários jornais e revistas, fundou publicações efémeras, como O Luso e A Hora, escreveu, a um ritmo alucinante, crónicas, contos, reportagens, críticas, histórias infantis para inúmeros periódicos, às vezes mais de 100 por mês, "para não morrer de fome" – evocou muito depois.

Em 1921 publicou, em edição de autor, Mas…, coletânea de ensaios e narrativas em que é patente a procura dum estilo original; porém, todos os livros desta fase, até O Voo nas Trevas (1927), serão por si considerados meras tentativas literárias e eliminadas da sua bibliografia. Enquanto jornalista, apesar de considerar esta atividade como mero recurso, pois o escopo era a literatura, foi paulatinamente firmando o seu nome em publicações de nomeada: A Batalha, ABC, Renovação, O Século, Civilização – revista de grande qualidade gráfica, que dirigiu.

Em 1926 será eleito presidente do Sindicato dos Profissionais da Imprensa de Lisboa, pouco antes do golpe militar do 28 de Maio, que instituirá o Estado Novo. A sua reação contra a Censura leva ao encerramento do sindicato no ano seguinte.


1928 é o ano de Emigrantes, abrindo novos horizontes à literatura portuguesa. Castro assumiu-se como "biógrafo das personagens que não têm lugar no mundo", e Manuel da Bouça surge-nos como um arquétipo que se dilui na torrente migratória com destino às Américas.

Trata-se de um romance fundamental no percurso de Ferreira de Castro, iniciando uma nova fase da sua obra. Representa, também, na história da literatura, uma viragem dentro do romance social português, evoluindo do realismo naturalista ou regionalista para o que viria a ser designado por neo-realismo, assumido pela geração seguinte com contornos políticos e ideológicos mais rígidos e definidos.
A este êxito de público e crítica, sucede o maior de todos: A Selva (1930). Livro poderoso, em que a personagem principal é o "inferno verde", traduzido rapidamente para várias línguas, tornou Ferreira de Castro o escritor português além-fronteiras, nos decénios seguintes.
Ferreira de Castro foi, durante décadas, o escritor português mais traduzido e publicado no estrangeiro. Desde o longínquo El Éxito Fácil (Madrid, 1923) até aos dias de hoje, em que continua a ser editado em vários países, nomeadamente em França, pelas Éditions Grasset. Esta tradução japonesa de A Selva vem juntar-se a muitas outras de vários romances castrianos, sendo este aquele que maior número de versões conheceu.
A morte da sua companheira, Diana de Lis, também escritora, nesse ano, seguida de uma septicemia e uma grave depressão que quase o levou ao suicídio, representaram um dos períodos mais negros da sua vida. Convalescente na Madeira, escreveu o romance Eternidade (1933), grito de revolta contra a fatalidade biológica do homem e, simultaneamente, abordagem à difícil situação social da ilha.
Seguiu-se Terra Fria (1934) distinguido com o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências. Nas terras do Barroso, Castro sentiu-se atraído pelas existências arcaicas daquela gente. Esse ano ficou também marcado pelo abandono de O Século e do jornalismo profissional, constatando ser incapaz de se adaptar aos espartilhos censórios, decidindo-se a regressar apenas quando a liberdade fosse restaurada.
 Esta nova etapa da sua vida não conheceu um início auspicioso. A peça que lhe fora pedida por Robles Monteiro para o Teatro Nacional, intitulada Sim, Uma Dúvida Basta, foi censurada, sendo publicada apenas em 1994; o romance O Intervalo quedou-se na gaveta até 1974; um outro, intitulado Classe Única, não passou dos capítulos iniciais. Castro enveredou, então, pelas narrativas de viagem. Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-38) deveu-se à simpatia do escritor pelos "povos minúsculos, pelas repúblicas em miniatura, por todos os que vivem isolados no planeta".Escrito no Estoril, aí conheceu a pintora espanhola Elena Muriel, com quem casou, em Paris, em 1938, e de quem teve uma filha, Elsa, nascida em 1945.
Embora se recusasse a escrever na imprensa portuguesa, abafada pela Censura, colaborou com o diário A Noite, do Rio de Janeiro, ao serviço do qual fez a cobertura da ocupação e anexação pela Alemanha nazi do território dos Sudetas (Checoslováquia), em 1938. No ano seguinte, ao serviço do mesmo jornal e apoiado pela Empresa Nacional de Publicidade, editora que publicaria o livro que resultará da sua viagem planetária: A Volta ao Mundo, publicado entre 1940 e 1944.
Recusando "a volta ao mundo coletiva" do superficial cruzeiro de luxo, e rejeitando sujeitar-se às imposições das tabelas das carreiras marítimas, Ferreira de Castro decidira traçar "o mais incómodo e longo itinerário que se pode fazer, mas também o mais fascinante e fecundo […], alternando os centros urbanos, onde rutila a civilização, com os fundões da terra, onde a vida dos homens se encontra ainda selvagem".
Ainda sob os efeitos da pressão censória, Ferreira de Castro escreveu um romance que considerou, injustamente, quase inócuo. Trata-se de A Tempestade (1940), trama urbano em torno do adultério, do preconceito e da condição da mulher. Numa entrevista ao Diário de Lisboa, em 1945, de grande repercussão nos meios literários e políticos, Castro referiu-se ao seu livro nestes termos: "”A Tempestade” dá bem a ideia da influência que a falta de liberdade de expressão exerce na literatura. Quem ler os meus outros romances mal me reconhecerá neste. Tudo quanto constitui a minha personalidade está, ali, forçado, ou melhor, desfigurado".
Acima de tudo escritor, a luta pela expressão foi sempre um dos seus cavalos de batalha: desde o protesto que assinou em 1926 contra a censura, na qualidade de dirigente sindical, até à militância no MUD (Movimento de Unidade Democrática), integrando a sua Comissão de Escritores, Jornalistas e Artistas, e ao apoio à candidatura de Norton de Matos à Presidência da República. Em 1947, publicou A Lã e a Neve, cuja ação se situa entre a comunidade pastoril da Serra da Estrela e os meios proletários têxteis da Covilhã – romance que, além de significar a grande explosão ficcional após catorze anos de desalento, tornou-o mestre de referência para as gerações mais novas. Com A Curva da Estrada (1950) e A Missão (1954), Castro regressou à escrita de contornos psicologísticos, sem que fossem arredadas as preocupações patentes nos livros anteriores.

Para a edição comemorativa do 25º aniversário de A Selva (1955), foi endereçado convite a Candido Portinari (1903-1962), afim de ilustrar o livro. A admiração do grande pintor brasileiro pela obra do nosso romancista evidencia-se, não apenas pelo seu magnífico trabalho, como pela circunstância de ter suspendido o trabalho que tinha em mãos: os painéis sobre A Guerra e a Paz no edifício da ONU, em Nova Iorque.
A arte sempre exerceu um intenso fascínio em Ferreira de Castro. À caminhada do ser humano, nas suas preocupações estéticas, mentais e vitais consagrou as páginas de As Maravilhas Artísticas do Mundo ou A Prodigiosa Aventura do Homem através da Arte (1959-1963), obra a que dedicou uma década, premiada pela Academia das Belas-Artes de Paris.
Entre 1962 e 1964, presidiu à Sociedade Portuguesa de Escritores, por cuja criação pugnara com Aquilino Ribeiro, este sócio n.º 1, Castro o n.º 2. Após as comemorações do cinquentenário de vida literária, em que avultam edições ilustradas de Emigrantes e Terra Fria, respetivamente por Júlio Pomar e Bernardo Marques.

Publicou o último romance, O Instinto Supremo, em 1968, simultaneamente em Portugal e no Brasil.
Inspirado pela ação humanista de pacificação dos índios pela missão de Rondon, Castro regressa literariamente à Amazónia que o viu nascer para a literatura, encerrando-se, assim, o ciclo…
Ferreira de Castro foi, durante décadas o escritor português mais traduzido, escritor dum país periférico e isolado, sem influência nem projeção internacional – assim era o Portugal do século XX, que normalmente se destacava pelas más razões: pobreza, estado autoritário e policial, colonialismo. Ser publicado na maior parte das línguas cultas europeias, em grandes editoras como a Macmillan, a Viking, a Grasset, a Aguilar, entre outras, foi um feito assinalável, abrindo caminho para outros escritores portugueses.

Reconhecimento internacional a que faltou o Prémio Nobel de Literatura, ao qual foi proposto em 1951 e em 1968, desta vez na companhia de Jorge Amado. Não obstante, ser-lhe-ia atribuído o Prémio Águia de Ouro de Festival do Livro de Nice, em 1970, por um júri muito relevante, na sua composição de escritores, presidido por Isaac Bashevis Singer, distinção à qual haviam sido proposto nomes de grande significado como Lawrence Durrell ou Konstantin Simonov.

Falecido em 29 de Junho de 1974, Ferreira de Castro repousa na Serra de Sintra, sob um banco talhado na rocha, numa vereda que conduz ao Castelo dos Mouros.

Tendo escrito aqui parte da sua obra, hospedando-se em especial no Hotel Netto, o escritor sentia-se particularmente bem neste cenário verdejante, tanto mais que a Natureza vegetal é um tópico importante nos seus livros, no seu estilo literário e dir-se-ia que indissociável da sua própria essência de homem e artista. Num texto de 1964, Castro escrevia:

"As paisagens nativas, as suas irmãs minhotas e tantas outras que me têm feito sonhar ao longo do nosso planeta, prendem-me mais profundamente à vida do que as raízes prendem as árvores à terra. Toda a minha existência de homem e de escritor está vinculada a esta paixão. Foi em convívio com a Natureza que os sentimentos de amor se sublimaram sempre em mim, foi em contacto com ela que elaborei a maioria das páginas que tenho escrito. As minhas demoradas estadas nesse pequeno mundo de beleza insigne que é Sintra, com tantas veredas dum intimismo lírico, tantos rincões secretos onde a poesia habita e tanta espiritualidade pairante, como se tudo propiciasse, às horas vespertinas, uma perfeita e voluptuosa fusão dos corpos e das almas, devem-se à irresistível fascinação que em mim exercem as grandes e verdes paisagens."

Ficar para toda a eternidade integrado de corpo e alma na Natureza que lhe inspirara tantas páginas, era uma ideia que acalentara desde cedo. Assim, em 1970, fez o único pedido às autoridades do seu país:" Desejaria ficar sepultado à beira de uma dessas poéticas veredas que dão acesso ao Castelo dos Mouros sob as velhas árvores românticas que ali residem e tantas vezes contemplei com esta ideia no meu espírito. / Ficar perto dos homens, meus irmãos, e mais próximo da Lua e das estrelas, minhas amigas, tendo em frente a terra verde e o mar a perder de vista – o mar e a terra que tanto amei."

Exposição “Vida e Obra de Ferreira de Castro“ -
Museu Ferreira de Castro
Museu Ferreira de Castro (cm-sintra.pt)

08 março, 2019

O livro e a paisagem em Ferreira de Castro - SEMANA DA LEITURA










Do currículo de geografia de 7º ano faz parte a observação e descrição de paisagens. Enquadrado neste tema foi desenvolvido o projeto “As Paisagens”. Este projeto foi desenvolvido em parceria com a Biblioteca Escolar Ferreira de Castro que organizou uma exposição sobre a descrição de paisagens nas obras de Ferreira de Castro. 



Ainda o escritor da paisagem: Ferreira de Castro

O Edifício, velho e longo, muito longo e de um só piso, parecia querer mostrar que a sua missão, justamente por ser celeste, devia agarrar-se à terra, estender-se bem na terra, para extrair a alma dos homens que nela viviam. No telhado antigo, com o pó dos tempos fixado em crostas esverdeadas que nenhuma chuva conseguia lavar, os pardais faziam o ninho na primavera. Em baixo, entre as paredes e as covitas que as goteiras, em horas pluviosas, abriam no solo, vicejavam lírios, roseiras trepadoras e tenros pés de salsa que o irmão hortelão não se dispensava de cultivar. Ao fundo, com uma árvore em frente, tão ramalhuda que quase a ocultava, erguia-se a capela, que, ligada embora ao edifício, avançava sobre o jardim, dando ao todo a forma de um grande L.
Ferreira de Castro, A Missão (1954)
(82-3 – CAS-MIS) pág. 13

25 fevereiro, 2019

O livro e a paisagem em Ferreira de Castro




Ainda o escritor da paisagem: Ferreira de Castro

Anoitecia. Nos topes da serra ainda havia rósea claridade, mas cá em baixo, boiavam sombras cada vez mais densas. Com suas altivas lombas, as ramificações da montanha cercavam, de todas as bandas, a vila postada quase no fundo do grande vale, ao pé do Zêzere, que na paz crepuscular adquiria voz forte, correndo e cantando entre os penedais do seu leito. A luz parecia desprender-se, como um véu, da imensurável cavidade, deixando ainda vermelhar a telha francesa das casas abastadas, enquanto os negros telhados dos pobres se somavam já à escuridão que avançava. Nas encostas, os pinheiros formavam mancha compacta e, nos vastos soutos, os castanheiros, de arredondadas frontes, dir-se-iam sem troncos - apenas largas copas pousadas nos penhores, como acampamento aguardando a noite”
Ferreira de Castro, A Lã e a Neve (1947)
(BEFC 82-3 – CAS-LA)
pág. 23,24


09 fevereiro, 2019

O livro e a paisagem em Ferreira de Castro


Ainda o escritor da paisagem: Ferreira de Castro


Ao fim da Avenida, meteu ao parque público. A terra, exibia-se garbosamente, com os seus canteiros floridos e as árvores dum verde tenro de primavera. O sol, filtrando-se por entre as comas, pintava, nas alamedas, arabescos de sombras e claridade. Através do arbustedo divisava-se, por todos os lados, a policromia das flores e um perfume intenso de jardim apossara-se da atmosfera.
Ela procurou sítio a seu gosto. Havia pouca gente naquele trecho do parque: dois velhos tomando sol, umas crianças que brincavam. Mais além, um homem novo, lendo um jornal. Sentou-se num dos bancos. Em frente estendia-se o lago, onde vogava uma pata e sua copiosa prol. Q brinquedos de feltro sobre a água fulgindo ao sol.
Ferreira de Castro, A Tempestade (1940)
(BEFC 82-3 – CAS – TEM)
pág. 79


07 fevereiro, 2019

O livro e a paisagem em Ferreira de Castro


Ainda o escritor da paisagem: Ferreira de Castro




 De novo o caminho ia encabritando abada a acima. Padornelos estava perto, mas mal se divisava. Os seus casebres de pedra solta, escurecida pelo tempo, e cobertos de colmo, dir-se-ia fruírem poder mimético, confundindo-se, apagando-se na encosta pardacenta. Se não fosse a moradia do “americano”, erguida, com sua fachada branca e telhado vermelho, um pouco arriba do aglomerado lugarenho, a quem visse de longe tudo parecia serra, não habitada por homens, mas por lobos ou outros bichos que gostassem de abruptas solidões. Para lá, o Larouco levantava a crista majestosa, ligando a terra ao céu e ostentando, nas primeiras declividades, grandes lençóis de neve. Era vulto enorme e altivo, presidindo, com a sua imponência ás outras montanhas que rabiavam dali ao Gerês. E, nascido do seu peito, o Cávado, deslizando de fraga em fraga, vinha correr cá em baixo, à esquerda de Leonardo. Ia manso o leito de margens quase nuas, pois só um outro vidoeiro, desfolhado pela invernia, nelas se destacava, alto e triste. Mas, qui e ali, alagava lameiros de erva mui verde - únicas manchas de cor viva na paisagem austera, cóbrea e sombria”
Ferreira de Castro, Terra Fria (1934)
(BEFC 82-3 – CAS-TER)
pág.20

04 fevereiro, 2019

O livro e a paisagem em Ferreira de Castro




Ainda o escritor da paisagem: Ferreira de Castro

“Era ainda, ao longe, um risco azuláceo- claro a emergir da muralha verde da selva. Buscando o canal, o “ Justo Chermont” mais uma vez trocou a margem direita pela esquerda e só depois convergiu a sua proa ao novo porto.
O seringal desvendava-se agora totalmente: em linha recta erguiam-se três barracas, logo dois casarões de madeira e telha. Um, resvés à terra, que devia ser pasto das águas em ano de enchente grande; o outro, muito comprido, ladeado por uma varanda, fixava-se em paliçada, para se libertar das inundações. Pelo porte, tamanho e pinturas, indicava a residência do amo e sede da exploração do seringal.
Desde Três Casas, Alberto não avistara outro tão importante, situado num vasto campo, que terminava, já na margem do rio, à sombra de três palmeiras, altas, nobres e solenes.”
Ferreira de Castro, A Selva (1930)
(BEFC cota – 82-3, CAS – SEL)
pág.82,83

28 janeiro, 2019

O livro e a paisagem em Ferreira de Castro



A literatura constitui um vasto campo onde o geógrafo pode encontrar. quase sempre em espaços ficcionados, percursos sociais. cenários económicos e culturais que o podem ajudar a compreender as relações. quase sempre complexas. entre a população e o território.

LITERATURA E GEOGRAFIA: Outras viagens, outros territórios.
EMIGRANTES de Ferreira de Castro
Fernanda Delgado Cravidão e Marco Marques
Cadernos de Geografia. n. • 19. 2000 Coimbra, FL.U.C, pp. 23-27




Do currículo de geografia de 7º ano faz parte a observação e descrição de paisagens. Enquadrado neste tema foi desenvolvido o projeto “As Paisagens”. Este projeto foi desenvolvido em parceria com a Biblioteca Escolar Ferreira de Castro que organizou uma exposição sobre a descrição de paisagens nas obras de Ferreira de Castro. 


A visita e exploração da exposição pelos alunos permitiu concretizar alguns dos objetivos previstos no projeto : utilizar o vocabulário geográfico em descrições orais e escritas de lugares, regiões e distribuições de fenómenos geográficos; situar exemplos de paisagens no respetivo território a diferentes escalas geográficas: local, regional, nacional e continental, ilustrando com diversos tipos de imagens; identificar o tipo de paisagem existente na região onde a escola se localiza; caracterizar a paisagem envolvente da escola (rochas dominantes, relevo). 



A articulação da atividade da biblioteca escolar, com as experiências de aprendizagem desenvolvidas em contexto de sala de aula, contribuíram para uma aprendizagem contínua, facilitou a motivação para a descoberta de outras formas de escrita (linguagens), onde o vocabulário geográfico está presente e estimulou o desenvolvimento crítico do conhecimento e a imaginação e a criatividade.

Todas as turmas de 7º ano, acompanhados pelos professores de Geografia visitaram a exposição da Biblioteca Escolar Ferreira de Castro O livro e a paisagem em Ferreira de Castro.



Tornar a Biblioteca Escolar Ferreira de Castro um local de formação e desenvolvimento da competência leitora, condição de todo o conhecimento, tendo como linha de ação a participação em iniciativas de estímulo ao relacionamento das competências de leitura com outros domínios do saber, objetivo do Programa Rede de Bibliotecas Escolares no seu Quadro estratégico 2014-2020, esteve subjacente a esta atividade dedicada a Ferreira de Castro.

O escritor da paisagem: Ferreira de Castro



“O pinhal, todo de troncos grossos, casca áspera e gretada, adormecida austeramente no silêncio da tarde primaveril. As suas pinhas dir-se-iam incopuladas ou corroídas por antídoto maltusianista, pois cá em baixo, no solo castanho e acidentado, nenhum pinheiro infame erguia para o céu os bracitos verdes. Os caules nus, quase negros, assimétricos, eram colunas dum tempo bárbaro, em cuja cúpula transparente o sol ia tecendo prateada e fantasiosa malha. Por vezes, o tecido incorpóreo esfarrapava-se e descia em fluidos caprichosos, até os galhos, formando pulseiras, ou até ao chão, onde coagulava em jóias bizarras.
Ao fundo, cortando o declive, estendia-se a linha avermelhada dum valado, que cedia terreno e entrincheirava a multidão cerrada dos pinheiros adolescentes e mui viçosos – a prole que os velhos não quiseram cobrir com as suas asas seculares.
À esquerda, para lá ainda da falda do outeiro, esbranquiçava, por entre a ramagem estática, o casario da aldeia. Desse lado, certamente de debicar os brincos vermelhos das cerejeiras, um gaio vinha, de quando em quando, esconder no pinhal o cromatismo da sua plumagem. “Chuá Chuá”. E era o único grito que quebrava o silêncio, também volátil, das velhas árvores em êxtase”
Ferreira de Castro Emigrantes (1928)
(BEFC cota:82-3 CAS-EMI)


09 abril, 2013

Casa Museu Ferreira de Castro

Um grupo de professores da nossa escola, E. B. 2, 3 Ferreira de Castro, visitou a Casa Museu Ferreira de Castro, tendo realizado o  filme que aqui apresentamos.

 

18 abril, 2012

Historial da Velha Mina (1)



     «Havia ainda alguma tolerância, embora cada vez mais rara e encolhida, quando em 1928 ou 1929 as toupeiras da Mina de São Domingos enviaram ao jornal um apelo deseperado. Nas galerias deficientemente entivadas, eram constantes os acidentes, a morte fazia parte daquelas sombras bailantes que as lanternas iam criando à frente dos homens, no chão, nas abóbadas e nas paredes enquanto eles laboravam. E, cá fora, os mineiros e suas famílias viviam em fabulosa miséria.
     Adelino Mendes redigiu o artigo. E por esse acolhimento estimulados, os homens voltaram a escrever. Pediam que o jornal mandasse alguém à mina - eu, se possível - para verificar com os seus próprios olhos os perigos a que eles se aventuravam todos os dias.
     João Pereira da Rosa deu-me a ler a carta. Vozes subterrâneas, vindas de longe, clamores de socorro, que me atraíam solidariamente, a certa altura formulavam, de modo imprevisto, um ingénuo romance policial. Quem quer que lá fosse, devia seguir as instruções secretas ali confidenciadas. Devia fingir-se de caixeiro-viajante de cabedais, com maleta e mostruário, pois seria espionado pelos vigias da empresa britânica desde que tomasse a camioneta em Beja, até que a Beja regressasse.»


in Fragmentos, Ferreira de Castro

11 julho, 2011

Ferreira de Castro

No dia 24 de Maio festejámos a escola e o nosso patrono Ferreira de Castro, com muita alegria e animação, em todas as escolas do Agrupamento.
Da sua vasta obra, desta vez, destacamos "Emigrantes", que foi lida pelos alunos dos oitavos anos, turmas D e H.Para nos falar sobre ela, tivémos a presença do Dr. Ricardo Alves, Director do Museu Ferreira de Castro.
Foi muito interessante verificar que a procura de melhores condições de vida, continua a ser a principal causa que leva tanta gente a deixar a sua terra.

11 maio, 2011

Dia da Escola

É no dia 24 de Maio que celebramos mais um Dia da Escola, dia em que nasceu Ferreira de Castro.
Para saberes mais sobre a biografia do nosso patrono clica AQUI

06 maio, 2011

Emigrantes - Ferreira de Castro

A DECISÃO


Manuel da Bouça não respondeu. Chegou o mocho para a janela e sentou-se a olhar os campos, cada vez mais soturno, mais enfronhado em severidade.
- Que tens, homem? Anda! Fala! Tu não estás bom...
Como a mulher ficasse de braços arqueados e as mãos na cintura, a olhá-lo interrogativamente, ele voltou-se e disse, mastigando as palavras:
- Está tudo resolvido... Vou... Vou até o Brasil...
- Tu?...
O silêncio dele, pesado, dramático, inquietou-a ainda mais. Ela começou a chorar. Depois:
- Deolinda! Deolinda! Minha filha!
A rapariga surpreendida por aqueles gritos, surgiu na porta da cozinha.
Mal a viu, Amélia correu ao seu encontro e abraçou-a, enchendo-lhe de lágrimas as faces e a mão:
- Ele sempre vai! Ele sempre vai!
- Ah! - e Deolinda principiou também a choramingar.
Manuel da Bouça ouviu-lhe os soluços durante alguns momentos; depois ergueu-se com atitude de mau humor.
- Basta de choradeiras! - exclamou. - Nem que o Mundo fosse acabar... Já se viu uma coisa assim?
Amélia obedeceu-lhe e as suas lágrimas começaram a deslizar em silêncio.
Ele contemplou-a com arrogância e continuou:
- É isto! É isto! As mulheres da Frágua estão acostumadas a trazer os homens debaixo das saias... Como se fosse coisa nunca vista alguém ir pró Brasil! Aqui é que não se governa a vida.

(Página 23, Guimarães Editores)

06 outubro, 2010

A Selva, de Ferreira de Castro (1930)

 "Eu devia este livro a essa majestade verde, soberba e enigmática, que é  a selva amazónica, pelo muito que nela sofri durante os primeiros anos da minha adolescência e pela coragem que me deu para o resto da vida. E devia-o, sobretudo, aos anónimos desbravadores, que viriam a ser os meus companheiros, meus irmãos, gente humilde que me antecedeu ou acompanhou na brenha, gente sem crónica definitiva, que à extracção da borracha entregava a sua fome, a sua liberdade e a sua existência. Devia-lhes este livro, que constitui um pequeno capítulo da obra que há-de registar a tremenda caminhada dos deserdados através dos séculos, em busca de pão e de justiça.
A luta de cearenses e de maranhenses nas florestas da Amazónia é uma epopeia de que não ajuíza quem, no resto do Mundo, se deixa conduzir, veloz e comodamente, num automóvel com rodas de borracha - da borracha que esses homens, humildemente heróicos, tiram à selva misteriosa e implacável."
Ferreira de Castro, Pórtico,  in "A Selva"